segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Tradição radical

Na festa de finados ou dos fiéis defuntos, rezamos por todos os defuntos, não apenas para aqueles da nossa família, ou pelos mais queridos, mas por todos, sobretudo aqueles que ninguém se lembra.

Nestes dias, uma das nossas tradições mais radicais é a visita aos cemitérios para um momento de oração, um momento para lembrar as pessoas amadas que nos deixaram, um momento de união familiar.

Assim, diante da morte o silêncio não é uma derrota, mas uma expectativa e uma companhia. “Não pode ser só isto. A vida abraçada e amada não pode, simplesmente, acabar!"; parecem ecoar vozes dentro de nós, com dor, revolta, saudade, e esperança à mistura. Nem com a banalização da morte que as notícias nos trazem de perto e de longe, e as reportagens e ficções que fazem dela relatos da nossa fragilidade, nos habituaremos a esta evidência.
 
Morrer não encaixa com a vida plena que desejamos!

É difícil o convívio com a morte. Mesmo os que temos fé e acreditamos na promessa de Jesus, (a vida eterna) experimentamos a fragilidade das certezas, a dor da separação, o desejo de abraçar quem amamos e agora já não está aqui. E todo o ambiente que nos rodeia, exaltando a vida, a festa, o excesso, a alienação, procura não falar dela e ignorá-la. Como se não existisse. Mas ela existe e às vezes está aqui tão perto, mesmo ao nosso lado!

Não creio que viver seja aprender a morrer. E lembro muitas vezes a frase de Sebastião da Gama: “que a morte, quando vier/não venha matar um morto”, para afirmar a responsabilidade que nos é confiada de viver (em cheio) até ao fim. E se a confiança em Jesus Cristo não retira totalmente o medo, a fragilidade, a tristeza, ela abre-me para o “Deus das surpresas” que desejo encontrar e abraçar um dia.

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