"Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos." Mt 21, 43
Richard Branson, numa entrevista concedida ao Expresso recentemente, a propósito de “dizer mal dos outros”, conta: “Se dissesse um mexerico ou comentasse negativamente alguém, os meus pais mandavam-me para o espelho. Isso ensinou-me que olhar para nós no espelho durante cinco minutos não é muito agradável e ensinou-me a procurar o melhor nos outros, a elogiar as pessoas em vez de as criticar.”
Pois é, o evangelho deste domingo foi espelho para mim, e pergunto-me: diante de um cristianismo que dá poucos frutos, Deus não continuará a fazer o mesmo, a entregar a vinha/vida abundante a quem produza frutos de bondade e justiça? Quantas vezes não vislumbramos esses frutos onde e em quem menos esperamos? E como nos alegramos com isso? O senhor da vinha não manda matar os vinhateiros que amealharam para si ou não trabalharam o suficiente; pelo contrário, mostra que, com Ele, é possível produzir frutos abundantes, e isso traz alegria em vez de morte!
A Parábola dos Vinhateiros é de facto marcante e dá um testemunho importante para a minha vida. Diz o texto que Deus plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e ergueu uma torre, e depois arrendou-a aos vinhateiros.
Em primeiro lugar, está aqui o cuidado de Deus para com o seu povo, Israel, mas que no fundo traduz o cuidado de Deus para com a humanidade toda.
E, depois, o Senhor arrenda aos vinhateiros, ou seja, confia-nos o cuidado da Sua obra. A nossa presença, o nosso trabalho, a nossa ação não é, apenas, para tirar rendimento ou para nos realizarmos socialmente, é uma colaboração com Deus na obra, porque Ele a coloca nas nossas mãos. Mas coloca-a como um Dom.
Assim, deu-nos mas para que vivamos como um Dom que Deus nos dá, para tomarmos consciência dele, para nos apropriarmos dele, não como donos, mas apenas como aqueles que tomam consciência do Dom para poder doar também. Às vezes, isto escapa-nos. Achamos que aquilo que vamos conseguindo, que os nossos projetos, que as nossas relações são coisas nossas, para nos apropriarmos delas e, por isso, destruímo-las. Porque um Dom quando não é doado fica destruído na sua essência mais verdadeira. São assim as relações, são assim os bens materiais, são assim os projetos, tudo aquilo que Deus nos dá.
Mas, depois vemos que aquele que não vive os dons como dons a serem doados fica escravo da ambição e fica escravo do apego. E isso gera violência. E a violência traz mais violência. E, por isso, entra-se numa espiral onde já não é importante viver o que Deus dá porque isso é tudo, mas guardar o que se conquistou com medo de o perder. De facto, há um dinamismo aprisionante daquele que entra na violência, já não é capaz de ver de outra maneira e acha que reagir de outra maneira é injusto, é desadequado, é inoportuno, no mínimo.
Qual é a resposta de Deus em Jesus Cristo? Qual foi a resposta que Deus nos deu, te deu a ti, me deu a mim, nos deu a todos nós? Não foi com violência. Jesus Cristo foi um Dom até ao fim. Ele que se entrega sem reserva, sem resistência, sem se esconder, sem fugir, sem se guardar. Ele é aquele que se torna a pedra angular, sólida, exatamente porque não fugiu, porque não guardou, não se resguardou, não se agarrou à vida que tinha, mas ofereceu-a até ao fim. E assim torna-se pedra angular para todos nós.