segunda-feira, 14 de julho de 2014

15.º Domingo do Tempo Comum


Sempre me incomodou precisar de utilizar ervas aromáticas, frescas, ir ao supermercado comprá-las e utilizar um ou dois pés nos meus cozinhados. Guardar o restante molho no frigorífico e quando voltava a pensar em utilizá-lo, a salsa ou os coentros já estavam sem jeito...

Vai daí coloquei mãos à obra e semeei no meu quintal as minhas próprias ervas aromáticas. A saber: salsa, coentros e hortelã. É preciso organização e disponibilidade mas pude perceber como a terra é benigna para quem a cuida e como as sementes são surpreendentes. É verdade que é mais ou menos trabalhoso mas a regra da multiplicação, quando não há intempéries ou imprevistos, é verdadeira. Por isso é grande a dor perante o desperdício de frutos ou produtos agrícolas que as regras do mercado lançam ao lixo. Ou o estado de abandono de frutos nas árvores que os proprietários não apanham nem partilham.

Segundo dados de 2012, “em Portugal cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano (17% do que é produzido) vai para o lixo, e nos 27 Estados Membros da UE a produção anual de resíduos alimentares ronda os 89 milhões de toneladas, estimando a UE que possa chegar a 126 milhões de toneladas em 2020. 30% dos produtos horto-frutícolas na Europa vão para o lixo!”. Estes dados levaram o Parlamento Europeu a aprovar este ano de 2014 como Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar. Às iniciativas urbanas (Re-food, Zero Desperdício) outras podem juntar-se, nomeadamente de cariz mais local (a nespereira que deu fruta abundante, ou o couval que se estragará se não fôr colhido e que poderiam ser partilhados…). Não se trata de desvalorizar o trabalho e alimentar a preguiça mas de promover uma justa partilha e reconhecer que a abundância de uns pode colmatar a penúria de outros.

Que dizer então das sementeiras e colheitas que acontecem na alma de cada pessoa? Como as valorizamos e estimulamos? Que qualidade procuramos para as sementes e com que cuidado favorecemos o seu crescimento? O semeador da parábola põe em causa as regras da agricultura! Então ele semeia sem se importar com o terreno? Parece um desperdício, mas lança as sementes com uma esperança invulgar: deseja que cheguem a todos os terrenos! É porque não lhe faltam sementes, e parece estar aberto à surpresa da sua força. Talvez nos aponte a universalidade da sementeira especial que é evangelizar. Para não cairmos em “condomínos espirituais” ou “quintinhas de terrenos bons”! 

É a alegria do semeador o que mais ressalta desta parábola. A semente que espalha não acaba, pois é o inesgotável amor de Deus. A sua preocupação não é a abundãncia da colheita; ela fará feliz principalmente aquele que der fruto. Ele não quer sementes desperdiçadas em sacos bafientos, guardadas como se tivessem valor por si, sem serem semeadas. E Ele que é semeador faz-se semente confiada às nossas mãos, às mãos da Igreja. Guardá-l’O é impedir que se multiplique!

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