terça-feira, 23 de setembro de 2014

O ócio é a mãe de todos os vícios

“Ide vós também para a minha vinha e dar-vos-ei o que for justo.” Mt 20,3

A liturgia deste Domingo convida a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus, parece simples, não é?!

O Evangelho fala do trabalho. Imagine-se os trabalhadores sentados à espera que alguém lhes dê trabalho e, bom, uns conseguiram trabalho cedo, outros conseguiram trabalho ao meio-dia e outros só ao fim da tarde. E, curiosamente, foi o mesmo empregador: um senhor que tinha uma vinha. Pronto, trabalharam, o ajuste foi direto, mas eles não se aperceberam que afinal o ajuste foi de um salário igual para todos. E, por isso, na hora de receber, como todos assistiram à entrega do pagamento do salário, aqueles que começaram a trabalhar de manhã cedo começaram a barafustar, porque verificaram que afinal todos tinham recebido o mesmo salário.

Bom, barafustaram, barafustaram, tal como nós nos nossos trabalhos fazemos barulho quando nos aplicam mais um corte ou quando temos que fazer um outro trabalho que saia da nossa rotina, mas o senhor, apesar de tudo, estava cheio de razão, porque se aquele que trabalhou todo o dia tinha acertado aquele salário, porque é que havia de estar a olhar com ciúmes para o salário de outro que começou mais tarde. Não há muita razão. Mas esta parábola certamente que nos quer levar muito além do dinheiro. Nós às vezes pensamos mais no dinheiro do que noutras coisas, mas há valores bem mais importantes, bem mais fundos. E foi sobre isso que Jesus quis fazer refletir as pessoas do seu tempo e nos quer, também, ajudar hoje a nós. Portanto, o que está em causa é o sermos capazes de nos dedicarmos a um trabalho e não interessa se começámos mais cedo ou se começámos mais tarde. E também não devemos trabalhar só pelo dinheiro. Devemos trabalhar para nos realizarmos como pessoas. Para ajudarmos a construir um mundo que seja mais humano, que seja mais fraterno e que seja mais cristão. E não precisamos de ter ciúmes dos outros. Oxalá que todos os outros se sentissem felizes como nós tentamos ser ou viver.

Afinal, não diz a sabedoria popular que “o ócio é a mãe de todos os vícios”? Imaginaria Jesus que estava a tocar num dos problemas fundamentais da humanidade, especialmente no início do terceiro milénio: o valor e o lugar do trabalho humano, a chaga do desemprego, a exclusão de milhões de um lugar ativo na sociedade e da sua subsistência?

Que todos trabalhem na sua vinha é o desejo de Deus; e a sua vinha é o mundo. Esta casa comum onde é urgente concretizar dinamismos de trabalho que valorizem cada pessoa, opções políticas e económicas que superem o abismo entre rendimentos escandalosos por excesso e por miséria. Que mundo andamos a construir?

3 comentários:

  1. Sr David ,
    Adoro ler o que escreve .
    E para que não hajam mal entendidos ...está parábola é bonita mas muito difícil de concretizar ... Num mundo onde cada um olha somente para o seu umbigo e tenta deitar abaixo o vizinho , só porque tem um carro novo .

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