"… ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo.” Mt 13, 44
Ao contrário do que deveria ser suposto, não me parece que seja pela alegria e pelo júbilo que somos conhecidos como cristãos.
Veja-se, por exemplo, o Papa Francisco...
Tem mostrado e convidado a viver da fonte da alegria que é o encontro com Jesus, e a verdade é que já há “católicos” escandalizados, vendo nele um “perigo” para a Igreja, ou alguém a quem se deve dar “um desconto” para que a “fortaleza da verdadeira religião” não desmorone.
A muita gente, incluindo dentro da própria Igreja, falta a descoberta do tesouro e da pérola que as parábolas do Evangelho deste domingo descrevem. Se encontrar o Reino produz uma alegria que leva a despojar-se de tudo para o obter, como se entendem práticas religiosas sem fulgor nem atração? E não penso na alegria espalhafatosa ou alienada, dos que vivem na opulência dos prazeres e no esbanjamento egoísta, indiferentes aos homens e mulheres como eles, que lutam para sobreviver, para trabalhar, para comer. Desconfio da alegria armadilhada de programas televisivos vendidos à “fé” do “telefone que pode ganhar…!” (são assustadores os programas de Sábado e Domingo à tarde na televisão - até custa ver alguns apresentadores repetirem aqueles números à exaustão!!!), ou da vitória passageira de um jogo de futebol. E que dizer da alegria do culto da eterna juventude do corpo ou da moda, sempre à procura de “estar bem consigo mesmo”, a que custo! Porque a alegria que aspiro é a que não produz ressacas, nem se celebra com “bebedeiras” de nenhuma espécie.
Aderir a Ele implica uma decisão que produz alegria: libertarmo-nos de muitas coisas acessórias que impedem a descoberta jubilosa do amor de Deus. Talvez saber “perder” para “ganhar” em autenticidade e simplicidade.
E porque a alegria também vive do bom humor aqui partilho uma oração de S. Tomás More, o conselheiro de Henrique VIII, decapitado na Torre de Londres:
“Senhor, dai-me uma boa digestão e também algo para digerir.
Dai-me a saúde do corpo e o bom humor necessário para mantê-la.
Dai-me Senhor, uma alma simples que saiba aproveitar tudo o que é bom e que nunca se assuste diante do mal, mas, pelo contrário, encontre sempre a maneira de pôr cada coisa no seu lugar.
Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, as mágoas e as lamentações; e não permitais que me preocupe excessivamente com a coisa complicada demais que se chama “eu”.
Dai-me Senhor, o senso do bom humor.
Concedei-me a graça de apreciar tudo o que é divertido para descobrir na vida um pouco de alegria e também para partilhá-la com os outros. Amém.”