Ao contrário do que muito se diz por aí o Natal não é sempre que um Homem queira... O Natal tem um dia próprio e tem um tempo de preparação...esse tempo é o advento...
A esse propósito apetece-me partilhar um poema do poeta José Tolentino Mendonça - um padre que muito admiro pelo que diz, escreve e essencialmente pela maneira de estar na vida.
"Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas
daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em
Jesus de Nazaré principiou.
Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em
palavras tão frágeis como "nascimento", "criança",
"rebento".
Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá.
Advento, tempo de preparar, mais do que consumir.
Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.
Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de
imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser
realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.
Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas:
acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto
precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.
Advento, tempo de se perguntar: "há quantos anos,
há quantos longos meses desisti de renascer?"
Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que,
em vez de correr, escorre limpidamente.
Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento,
da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.
Advento, tempo para contemplar o infinito na história,
o inesperado no rotineiro, o divino no humano,
porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus."
Não sei como estás neste início de Advento, se estás sem ânimo, sem esperança, sem encanto nem fulgor. Se for o caso, que estas sábias palavras te possam iluminar neste tempo favorável...